sexta-feira, 29 de maio de 2015

Lidice from São Paulo

Saí no jornal local após minha primeira visita a Lidice, em 2011

Sou uma das mulheres que se chamam Lidice. Nasci em São Paulo, em 1967. Fui batizada Lidice pelo meu pai, Mylton, quando ainda estava na barriga da minha mãe, Eugênia. Meu nome, anunciou meu pai de estalo, lendo um jornal na época, "iria homenagear a aldeia da antiga Tchecoslováquia [atual República Tcheca] destruída covardemente por Hitler durante Segunda Guerra Mundial".
A tragédia de Lidice foi um crime de vingança dos nazistas, pela morte da segunda maior autoridade de Hitler, o comandante Reinhard Heydrich. Cresci com dificuldade, nas escolas e entre amigos, para explicar meu nome. "Que esquisito", diziam, ao me ouvirem pronunciar L-I-D-I-C-E. Odiei meu nome muitas vezes, ao ter que assinar documentos, querendo chamar Maria. Sonoro, simples, qualquer pessoa entende. 

Eu, minha mãe e Lidice Santos: reunião em Lidice (fotos: Dagomir Marquezi / DMP) 

A partir de 2011, comecei a me orgulhar do meu nome. Encontrando outras Lidices no Facebook, fui criando uma nova relação com a história tão triste da cidade - e com a minha própria, já que meus pais se separaram quando eu tinha 3 anos. Assim como a Lidice original renasceu das cinzas, passei a observar a minha capacidade de renascer a cada tranco (desses mais fortes) que a vida dá. Decidi me aprofundar na história de Lidice e comecei a ler livros e ver filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. Demorou pouquíssimo para eu querer visitar Lidice pela primeira vez - o que aconteceu em 2011.

O historiador José Sanfelice, a prefeita Veronika, eu e Lidice Santos: aula de história in loco em 2015


Hoje estou em paz com meu nome e quero ajudar a manter viva a história da cidade reconstruída. Levar minha mãe para conhecer Lidice era um dos meus desejos. Realizei-o no dia 11 de maio de 2015, numa viagem de caráter familiar. Em Lidice, encontrei outra brasileira: Lidice Santos, do Recife. E fomos muitíssimo bem recebidas pela prefeita Veronika Kellerová - cujos bisavô e tio-avô foram assassinados a tiros no fatídico 10 de junho de 1942. Jamais nos esqueceremos disso.

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